A XI edição dos Encontros de (alguns) Escritores de Língua Portuguesa começa hoje na Praia, capital cabo-verdiana e conta com uma homenagem a Amílcar Cabral, que liderou as independências da Guiné-Bissau e Cabo Verde.
Nesta edição será debatida a “actualidade do pensamento” de Amílcar Cabral, no âmbito dos 100 anos do seu nascimento, que se assinalam em 2024, e na sexta-feira, segundo e último dia do evento, o presidente da Fundação Amílcar Cabral, o ex-chefe de Estado cabo-verdiano Pedro Pires, fará uma intervenção sobre o legado do líder histórico.
Os Encontros de Escritores de Língua Portuguesa foram iniciados pela UCCLA em 2010, para a valorização da cultura, a difusão e promoção das literaturas dos países lusófonos e a troca de experiências entre escritores têm como tema nesta edição “A língua portuguesa, expressão de liberdade, democracia e desenvolvimento municipal”.
Na XI edição, participam os escritores Jacques dos Santos (Angola), André Bazzoni Bueno e Domício Proença Filho (Brasil), António Baptista, Fátima Fernandes, Felisberto Vieira, José António dos Reis, José Maria Semedo, Lúcia Cardoso, Madalena Neves, Odair Varela, Vera Duarte e Vlademiro Furtado (Cabo Verde), Amadú Dafé (Guiné-Bissau), Sheila Khan (Moçambique) José Pedro Castanheira, José Pires Laranjeira e Leonel Barbosa (Portugal), Olinda Beja (São Tome e Príncipe) e Pedro Casteleiro (Galiza).
Os encontros contarão com a presença do primeiro-ministro de Cabo Verde, Ulisses Correia e Silva, hoje na sessão de abertura, e do Presidente cabo-verdiano, José Maria Neves, no encerramento.
Durante o evento serão ainda apresentados os vencedores da 8.ª edição do Prémio de Revelação Literária UCCLA-CMLisboa – Novos Talentos, Novas Obras em Língua Portuguesa, atribuído ‘ex aequo’ a André Bazzoni Bueno e a Leonel Barbosa.
Dos dez EELP anteriores, quatro decorreram na cidade de Natal (Brasil), um em Luanda (Angola) e os restantes na cidade da Praia, Cabo Verde. Já participaram mais de 200 escritores, entre os quais seis prémios Camões: Arménio Vieira, Eduardo Lourenço, Germano Almeida, João Ubaldo Ribeiro, Mia Couto e Pepetela.
A UCCLA organiza os encontros juntamente com a Câmara Municipal da Praia, com o apoio da Academia Cabo-verdiana de Letras e da Sociedade Cabo-Verdiana de Autores e da SPA – Sociedade Portuguesa de Autores.
Vítor Ramalho, Secretário-Geral da UCCLA:
«O XI EELP – Encontro de Escritores de Língua Portuguesa, é o sexto a realizar-se no contexto da proposta da Câmara Municipal da Praia de sediarmos os EELP na cidade da Praia.
Proposta de imediato aceite pela UCCLA. Neste âmbito foi escolhido como tema central para o XI EELP – “Língua Portuguesa, Expressão de Liberdade, Democracia e Desenvolvimento Municipal” e discutir-se-ão subtemas como: Literatura, Inclusão e Desenvolvimento Cultural, Democracia e Municipalismo.
Agradeço ao Presidente da Câmara Municipal da Praia, o amigo Dr. Francisco Carvalho, a toda a Vereação e aos demais membros dos órgãos autárquicos e serviços a colaboração e o apoio prestado em mais esta parceria com a UCCLA.
Tem havido a preocupação, nos sucessivos encontros, de fazer participar, em função dos temas, personalidades de renome de todos os países de língua oficial portuguesa.
Nestes EELP já participaram escritores consagrados pelos principais prémios literários das literaturas escritas em Língua Portuguesa (incluindo 6 prémios Camões: Arménio Vieira, Eduardo Lourenço, Germano Almeida, João Ubaldo Ribeiro, Pepetela e Mia Couto). Estou também muito grato, por isso, aos escritores a aceitação do convite para este XI Encontro, que resulta de uma coorganização entre a Câmara Municipal da Praia e a UCCLA, com a especial parceria da Academia de Letras Cabo Verdiana e da Sociedade Cabo Verdiana de Autores.
Finalmente, não posso deixar de destacar o inestimável patrocínio da Empresa Municipal de Estacionamentos da Praia.
A riqueza de Cabo Verde, que abrange também todos os domínios da intensa e diversificada actividade cultural, que a Câmara Municipal dinamiza, não poderia deixar, por todas estas razões, de ter uma forte representação. Cumpre igualmente a estes encontros resgatar da memória grandes escritores de Cabo Verde, como fizemos com Corsino Fortes e Jaime de Figueiredo. Homenageámos igualmente Arménio Vieira e com Germano Almeida.
A circunstância de nas sessões de abertura e de encerramento estarem presentes ao mais alto nível membros de órgãos de soberania de Cabo Verde, para além do Presidente da Câmara da cidade da Praia, é uma enorme honra para todos nós.»
QUEM DEFINE QUEM É FILHO E QUEM É ENTEADO?
A propósito de mais uma edição dos Encontros de (alguns) Escritores de Língua Portuguesa, recordamos o artigo “Obrigado Tomás Lima Coelho”, por nós publicado a 27 de Janeiro de 2018, a propósito do livro “Autores e Escritores de Angola (1642-2015)”, uma Obra exemplar que colocou Angola como o primeiro dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa a possuir um acervo desta natureza.
“Venho participar o fim do meu trabalho de mais de dez anos em prol da(s) literatura(s) produzida(s) por angolanos(as), tanto no país como na diáspora”, afirmou Tomás Lima Coelho.
“Quando em 2016, ano em que foi apresentado pela primeira vez o meu livro “Autores e Escritores de Angola (1642-2015)”, queria dar o trabalho por concluído, houve alguma insistência por parte da editora e de alguns amigos para continuar e acedi prolongar as pesquisas e recolha por mais dois anos”, recorda o escritor angolano Tomás Lima Coelho, explicando que, “assim, recolhidos em 2016 e 2017, irão juntar-se à nova edição do livro mais 445 novos nomes e respectivas obras, e mais algumas centenas de livros publicados neste período por autores e escritores já referenciados na primeira edição: ficarão assim listados 2.225 autores e escritores”.
Tomás Lima Coelho salientou que “obviamente também aproveitei para limar e corrigir alguns erros e imprecisões que constam da primeira edição, ao que se junta o facto de ter conseguido ainda obter bastantes fotografias e outros dados bio-bibliográficos que nela faltavam”.
“Se tudo correr como esperamos, se conseguirmos reunir as condições necessárias para a nova edição do meu trabalho, tencionamos apresentá-lo em 2018”, perspectiva Tomás Lima Coelho.
Com a modéstia típica dos que fazem História, Tomás Lima Coelho disse esperar “ter contribuído, ainda que de forma modesta, para a preservação da memória de tudo o que foi produzido em livro por angolanos desde o longínquo ano de 1642 até ao final de 2017, reconhecendo, todavia, que poderá dar-se o caso de haver nomes e obras que possam ter escapado à minha pesquisa”.
“Anseio, e aqui deixo o apelo, que alguém, pessoa, grupo, organismo ou instituição, se decida a pegar e a continuar este trabalho ao qual dediquei grande parte da minha vida e do meu tempo. Fi-lo por amor ao país onde nasci, Angola, e apenas por isso, como forma de contribuir o melhor de que fui capaz para o seu crescimento e desenvolvimento cultural no que à Literatura diz respeito”, afirmou Tomás Lima Coelho.
Em matéria de agradecimentos, Tomás Lima Coelho fá-los a “Manuel Secca Ruivo, o primeiro amigo a acompanhar os meus passos e a quem muito devo, à Editora Perfil Criativo, na pessoa do João Ricardo, que acreditou em mim e no meu trabalho, ao Armindo Laureano pelo inexcedível acompanhamento que fez e que permitiu que o meu trabalho chegasse a Angola, à família que aturou as minhas ausências diárias, e aos muitos amigos e amigas que, generosamente, me foram ajudando a completar a obra fornecendo títulos, fotografias, datas e locais de nascimento dos autores e outros detalhes. Um agradecimento muito especial à Maria Vieira, por tudo”.
No dia 20 de Junho de 2016, o Folha 8 apanhou Tomás Lima Coelho ainda com as dores do parto do livro “Autores e Escritores de Angola – 1642-2015”. Era um escritor feliz. Acabava de dar mais um contributo de elevadíssima qualidade para a História de Angola, sua Terra Natal.
“Este trabalho é obra de quase uma década de pesquisas diárias, feitas com muita paciência e persistência, muitas vezes incomodando amigos para chegar a outros”, contou-nos nessa altura Tomás Lima Coelho a propósito desta obra.
O autor explicava que os critérios que decidiu seguir, “que se tornaram claros logo que iniciei a pesquisa, são os seguintes: ter nascido em Angola (ou ser naturalizado) e ter pelo menos um livro publicado”.
Mas como tudo na vida, Tomás Lima Coelho teve também ele de dobrar o Cabo das Tormentas: “Dificuldades e resistências houve algumas, como seria de esperar, sendo a principal a natural desconfiança das pessoas em fornecer-me dados pessoais e fotografias. Mas, com calma e socorrendo-me de amigos comuns lá fui levando a água ao moinho”.
O autor reconhecia que “certamente que existirão falhas, nomeadamente alguns daqueles que publicaram obras em edição de autor e que não tiveram qualquer exposição mediática”, acreditava – contudo – que “não seriam muitos”. Explicava igualmente que “também faltam muitas fotografias e anos de nascimento, mas isso são contingências que não ferem muito o meu trabalho”.
“De qualquer forma haverá sempre a possibilidade de corrigir essas falhas numa possível segunda edição revista e aumentada”, enquanto esperava para ver “qual a receptividade ao seu trabalho, nomeadamente nos meios intelectuais e académicos, porque são esses que interessam, foi para eles que elaborei o livro”.
Tomás Lima Coelho nasceu em Moçâmedes em 5 de Outubro de 1952. É o mais velho de cinco irmãos, todos naturais de Angola. O pai, Ápio de Andrade Coelho, nascido no Lobito, filho de um português natural de Vila Verde, Braga, que arribou Angola em 1890, descendia pelo lado materno de uma família angolana originária do Ambriz. A mãe, Maria Lúcia Gavino, chegada a Angola com apenas seis meses de idade, pertencia a uma família muito conhecida em terras do Sul.
Sendo o pai funcionário da Fazenda Nacional e, por isso, sujeito a transferências sucessivas, percorreu desse modo grande parte do território angolano. A primeira deslocação, aos 6 anos de idade, foi para Lândana, em Cabinda, onde nasceu o seu irmão António Manuel (durante a viagem de Moçâmedes para Lândana nascera a sua irmã Maria da Luz, a bordo do navio “Império”).
Depois rumaram a Caconda onde nasceu outro irmão, Luís Pedro. Seguiram-se Camacupa, Caála e, finalmente, Malanje, onde nasceu Miguel, o mais novo dos irmãos.
Em 1975, através da ponte aérea, viaja com toda a família para Portugal, fugindo à guerra. Aqui reside desde então. É casado com a malanjina Ilda Coelho, pintora nas horas vagas, tem dois filhos, Daniel e Inês, e uma neta, Mariana.
Sobre as suas origens, naturais e afectivas, gosta de se definir com as palavras do poeta: “No Namibe vi a primeira luz do dia, mas foi em Malanje que nasci.”